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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Eu sei, mas não devia - Marcos H. B. Suzin

"Eu sei, mas não devia. Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia". 
A gente se acostuma a morar com familiares e a ter uma casa grande. E porque tem uma casa grande, logo se acostuma a  ter espaço. E por que tem espaço, logo se acostuma a deixar a coisas jogadas. E por que deixa as coisa jogadas, logo se acostuma a misturar com as dos outros. E por que mistura, logo se acostuma a ouvir as reclamações. E por que ouve reclamações,   logo se acostuma a organizar. E por que se organiza, logo se acostuma a viver em grupo, em união, em família. 
A gente se acostuma a acordar cedo por que tem que ir para a escola. A se arrumar correndo, por que está com pressa.  A ter dor de barriga, por que comeu rápido. A estudar, por que é importante. A ler, por que a professora pediu. A cochilar na  carteira,  por que está com sono. A comer merenda, por que está com fome. A fazer prova, por que ganha nota. A receber advertência,  por que é mal exemplo. A fazer ,  por que não é preocupado. A terminar a escola, por que precisa   ser alguém. 
 A gente se acostuma a procurar um emprego e ganhar bem. E, aceitando ganhar bem,  aceita fazer o que pedem. E, aceitando  fazer o que pedem, aceita sem reclamar. E, aceitando sem reclamar, aceita de certa forma um trabalho forçado. E, aceitando  um trabalho forçado, aceita que o ganhar bem já não é tão bem assim. E, aceitando que o bem não é tão bem assim, aceita  que quer aumento. E, aceitando que quer aumento, aceita uma possível demissão. E, ceitando uma possível demissão, aceita a insegurança, que gera preocupação e um salário baixo. 
A gente se acostuma a olhar e ser olhado. A amar e ser amado. A dar carinho quando recebe amor. A sair da solidão quando encontra   aquele alguém. A namorar quando se  está apaixonado. A casar quando está  “acorrentado”. A ser feliz sem ser triste. A brincar esperando ver um sorriso. A cantar para sentir alegria. A beijar quando está com vontade. A ficar louco esperando todo mundo perceber.  A esperar que a pessoa certa venha e diga: "Eu te amo". A conquistar uma vida quando se tem se esforçado muito. 
A gente se acostuma a assistir televisão e  ver noticias. A esperar coisas boas e ver ruins. A sair na rua e ser roubado. A comprar revistas   e ver atentados. A ir à igreja e ver padres pedófilos. A pedir ajuda e receber mais impostos. A ir ao hospital e morrer no corredor.  A votar nas eleições e ser enganado depois. A ir para escola e apanhar do professor. A querer conhecer outro país mais pobre e escutar  que lá vai pegar doença. A esperar uma linda paisagem e fugir com um vulcão em erupção, se afogar numa onda gigantesca, ser arrastado por  um furacão ou ser morto pelo próprio homem.  


A gente se acostuma a aprender com os erros para não cometê-los novamente. Acostuma-se para esquecer os acontecimentos, pancadas,  machucados, cicatrizes que não somem como a dor. A gente se acostuma para ainda se sentir vivo. Que ainda à felicidade por dentro das feridas.   Acostuma-se para acreditar que o presente é você quem faz, vivendo, aprendendo, o futuro é incerto.

Marcos H. B. Suzin
Turma: 302
Professora: Ana Maria
Releitura da crônica “Eu sei, mas não devia” – Marina Colasanti

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